DEGENERO

A minha nova coragem não se apercebe em como se conforma com as cortes do mundo e como as repudia num estado mais profundo do que alguma vez pensei. As minhas consciências separam-se. Eu torno-me em dois em mais que um e eu sou apenas eu. Sou irredutível e imensurável e não sei quantificar as minhas capacidades da terra. Não as percebo mas tenho-as aqui. Apago cada vez mais as palavras. Paro muitas mais vezes por causa dos erros que deixo no teclado e que passam para as teclas e telas digitais que tanto amo.
Sempre foram as minhas confissoras. Mesmo que não me ouças eu saberei que te disse aquilo que pensava. Magoei-me muito mais do que eu já possa imaginar. A mão direita já não me respeita nem quer saber onde eu a coloque, porque vai sempre fugir mais um bocadinho e o meu cérebro vai forçar mais um bocadinho o seu espaço em mim  - quase como se nunca tivesse existido.
As dúvidas que me rodeiam a mente são falhas corporais. A falta de força e concentração esmagam-me a alma e o espírito. Recordo-me daquilo que me aflige e me faz ser alguém neste mundo, mas quase sempre fujo desta merda como o diabo foge da cruz. Realmente não gosto de cruzes. Detesto cruzes e cruzamentos cheios de magias ocultas que tantas vezes me amarraram a um ser que eu nunca fui. E nasci assim.
E nasci aqui assim, para mim. Triste e engelhado sem pecado. Até que me tornei no ser glorificado.
As teclas continuam a não ser as mesmas desde que comecei a escrever este texto. As teclas não são as mesmas, as teclas não podem ser as mesmas. Ou sou eu que penso mais devagar do que escrevo?
Talvez. Comprovei-o agora. Acho que as minhas duas consciências se misturam e se batalham à procura de melhores formas de expressão daquilo que eu sou. Daquilo que eu realmente sou. Por isso repito e repito aquilo que tenho em mim, para ter a certeza que me ouvi bem e que me representei bem enquanto vos conto o que passei.

Não sei a doença que tenho. Desconheço-a. Não é passiva, não é plausível nem me deixa estar. Quer me mais e quer me sempre mais. E alegra-me o facto de poder escrever sobre ela, sem que ela me corroa mais um bocadinho a capacidade de ser eu. Um novo eu talvez, um renovado e novo eu, que descobre tantas formas de se expressar que se perde nas antigas e recorre às novas como se fossem suas.

Estás a degenerar.
Estás a gerar.

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