Turbilhão

Aquela plenitude que sempre senti, não me abandonará. O que faz parte de mim assim permanecerá.
Mas por favor, deixa-te cair para trás. Por mais que eu diga que vou te deixar cair, nunca poderia perder a oportunidade de te agarrar mais uma vez junto a mim, antes de cair. De cairmos. A força que nos puxa ao chão, é a mesma que nos repele a fome um do outro. Quer ser nula, mas nunca se anula.
Não me fales, nem fales nada. Porque eu lembro-me de todas as palavras que me tiram o fôlego e a razão. Segue-me, não me dês as mãos. Eu sinto o que quero sentir, e nunca acredito quando corres em sentido contrário. É tudo mentira. Por favor, faz tudo ser mentira.
A alma a flutuar, o te negar, o te beijar, o te empurrar. Faz por favor, que seja tudo mentira. Deixa apenas acontecer.
Porque a vida toda nos passa em frente dos olhos como a velocidade da luz. Onde andamos nós nessa viagem? Talvez a vivê-la.
É outra vez a mesma fome, que crava o abismo do nosso ser e nos faz fugir. Para mais uma vez te levitar e fazer sentir. Para mais uma vez te possuir e não acreditar. Vamos cair de costas, já sabes. Somos lunáticos ao nos atirarmos às bestas e acordarmos deitados lado a lado. Com o corpo ainda quente, e a suspirar palavras de morte à nossa eternidade. É um labirinto este leito, é um voltar e revoltar o corpo. As chibatadas que nos infligimos não doem, dão prazer. E o querer é maior que o poder. Adormecemos mais uma vez com os pesadelos sincronizados. Não temos para onde correr.
Possuo-te antes de gentilmente desmaiarmos neste amor sincopado. A pele escorrega, e os movimentos são perfeitos. Porque encaixas em mim como um puzzle, mas fazes-me procurar por uma última peça, antes que acordes.
Mas eu nunca a encontro.

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