Não és o silêncio

Estou vivo e a culpa nem é tua. Não consigo sentir mais a dormência que os meus sonhos me traziam às mãos. As coisas mais estúpidas continuam a fazer sentido, e eu continuo a pensar em como seria se eu não pensasse tanto e quisesse tanto.
É verdade, que eu vejo amor em tudo, e vejo o pôr-do-sol no horizonte sempre que perco tempo contigo.
Mas nada mais faz sentido, se eu navego sem rumo, e sem vela. Preciso de espaço, e preciso de tempo para o ocupar. E para ter saudades tuas, e daquilo que não foi.
Se me deito à beira do rio, as diferenças entre mim e o resto do mundo serão comuns. E as falhas que vir em mim em nada têm a ver contigo. Porque não te posso sentir mais, onde nunca estiveste. Não te posso deixar ir, se nunca te agarrei. Porque todo o vazio que estava no meio dos nossos abraços, era desperdício de vida. Porque as saudades que sinto, são saudades de uma mente vazia e limpa de desejos e visões. Quero me deitar aqui, e acreditar que alguém me vai fazer entrar no meu subconsciente e perceber a razão de eu pôr tudo a perder. Estou a ficar com o corpo frio, que me queima, mas não me sinto desconfortável, nem tu me aqueces neste final de tarde.
Eu estou a roubar sentimentos a quem os merece. Peregrino entre as razões que nos compõem. Porque tu mentes e eu não acredito, mas mesmo assim vivo com isso. Com esses sons que constroem a minha música de fundo. Esperanças às quais não ligo, e verdades as quais não conheço.
Não estás mais à minha volta, nem nunca mais estarás. Porque estar vivo, é estar sozinho e longe de ti.
Numa busca de algo melhor, onde nada resta, nem nada permanece. E aí poderei dar tudo o que não tenho, porque valerá a pena ficar despido à espera que alguém me cubra de sensações que antes quis esquecer.
Eu vou para uma nova casa, sem chave e sem morada, ninguém me encaminha, nem sigo ninguém.
Se está vazia não faz mal, se antes eras a mobília, agora és o pó; se antes eras a música que saia do rádio, agora nem o silêncio és.

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