"Porque posso."

Apartado dum mundo aparte. Apartado dum olhar distante. Apartado dum qualquer estado de sonolência nociva à minha alma inconstante e precisa em direcção à sua morte.
No fim dum abismo inicial. Percorro-me qual viajante erróneo, nesta trip, cheia de delírios, cheia de alucinações. Quando dou por mim, arrastado não sei para que beco sem saída, numa cidade desconhecida. Sou um estranho dentro de mim e junto a ti. Sou o pecador no teu mais supremo tribunal. Sou o arguido dum amor condenado a morrer com uma injecção letal, mesmo na minha íris. Ultrapasso o estado deambulatório, nunca seguindo o caminho certo.
Sou o ser inato na miséria da dor, na destruição do sonho... Esperançado, sem nunca chegar ao fim da linha, sem nunca percorrer a verdadeira viagem.
Abandonaram-me no meio do oásis, aluado de vida.
Serei eu o originador? O pecado veio de mim? Disseram-me que sim uma vez. A vez que me viraram as costas. A vez que me fizeram desistir e me disseram que tinha que seguir em frente. Seguir em frente para onde? Estou desnorteado, perdi a minha verdadeira bússola.
Se o sonho comanda a vida...
Porque que o teu pesadelo comanda a minha?

Sinto o cano frio no meu pescoço. Sinto a dormência dominar, sendo mais um sinal de impotência.
Impotente duma vontade inata. Impotente duma justiça viva em mim. Impotente dum amor, mortífero.
Sentenças proferidas.
Ataram-me os membros, amordaçaram-me, imobilizaram o meu corpo. Caparam-me os sentimentos. Porquê? Porque podem. E sempre puderam.
Assim me foi dito.
Ordem.
Esta desordem que me tornaram. Nesta falsidade em que me rodearam, e mutilaram.

Salva-me.


(Só tu podes. Porque tu me puseste em perigo.)