Quando...

Quando eu tinha 10 anos, achava-me mais poderoso que qualquer força da natureza. Na verdade amava a Mãe Natureza. Era a única que eu tinha e me ensinava que deviamos ser fortes e que mesmo que caias e te rasgues todo, sempre terás um riacho onde te resfresca(nova)res.
I was a dreamer.
Seria o super herói mais forte do planeta, ia para África e salvaria todos os meus irmãos.

Seria médico, só pelo poder da medicina nas pessoas.

Restauraria a vida no Egipto, seria Faraó.
Poderia falar com o meu irmão, sem fugir, talvez pudesse ouvir a voz da minha mãe (quando a ouvi a primeira vez, vinda do outro lado do telemóvel dele. chorei.)
Seria um grande pianista, como assim queria. Viveria a compor e a dançar.
Nunca me apanhariam sem as ideias a funcionar. Nunca me apanhariam sem um sorriso na cara. Nunca me apanhariam a deixar de aprender com o meu espelho da alma, os meus olhos.
Os olhos que cegaram de tanta amargura e dor vista, de tantas lágrimas escorridas por eles; e pelos outros.
Um virar de costas, da pessoa que para ti era o teu modelo. E na verdade, seria mais um pequeno pedaço de pesadelo.
Mais um virar de costas da presença que te aquecia todas as noites e não te deixava dormir sozinho e com os monstros no armário de parede.
A máscara no sótão. Grito.
A fuga de mim mesmo, para o meu mundo mais afastado do meu antigo.
Olharam-me sempre por o canto do olho. Enquanto eu andava de volta daquela árvore. Sempre se riram porque eu passava as tardes com o cão dentro da casota dele, por não haver mais ninguém.
Fechava a porta do quarto e movimentava o meu corpo numa sintonia por mim desconhecida. Era sempre ELE. Era sempre ELE em mim.
As mil personagens dentro de mim.
Seria eu capaz de me levantar? Nunca cai! Nunca me viram por terra, sempre me viram renascer dela.
Abandonaram-me. Tu e tu, e tu e se calhar também tu. E tu também sonho.
Não sei porquê as lágrimas escorrem mais uma vez face a baixo.

Sei recordar.

Nunca falo de mim. E não sou eu.

Era outro de mim... quando eu tinha 10 anos...