Sorriso com sabor a Chantilly (continuação)

Observava-a assim apaixonado. E sem pecado no meu coração. Sei também que a queria para mim, sem explicação.
Contudo, as reviravoltas duma sociedade, muito mais nobre, e da alta; tem tudo o que se pode intitular de mexericos desconcertantes e errantes.

Nos dias seguintes não a vi. Parece que os nossos momentâneos encontros, são isso mesmo momentâneos e quase sem repetição, aquela permanente que o meu coração precisava, e ansiava.
Hoje cedo, pouco depois do sol dar-nos os bons dias a minha querida governanta da casa, que me criou, entregou-me um pequena carta. Aimeé, o seu belo nome, a verdadeira amada e minha secreta amante, havia me enviado um recado, através de uma das suas mais fieis aias. Não sabia ao certo como ela me tinha encontrado e sequer se lembrado de mim.
Só sei que estava radiante ao ler a sua pequena carta. E poder sentir assim, o seu cheiro nas folhas.


«Monsieur, Richard

Sei que não nos conhecemos muito bem, nem tivemos um contacto mais verbal. Sei também que uma donzela como eu nunca deveria estar a enviar um recado, comprometendo assim a minha dignidade por confiar numa simples aia, e me expor a si novamente.
Contudo, creio que ambos nos reparámos. E acho que necessitamos de esclarecer o nosso estranho encontro do dia do baile.
Quanto sei foi visto a observar a minha pessoa na feira, enquanto fazia as minhas compras rotineiras.
Gostaria de me poder encontrar consigo. Não sei o que pensa em relação a isso. Espero que não me leve em má consideração. E espero igualmente que respeite a pessoa que sou e de quem sou filha.
Por isso, gostaria que me encontrasse, depois do cair da noite, aquando da hora do recolher no palácio, quando os guardas do portão traseiro, estão na sua ceia. Creio que saberá se desenrascar. Junto a grande árvore, no Jardins Norte.
Aguardo-o ansiosamente.
Assim como aos seus suaves beijos para a minha alma.

Não me leve a mal pelas palavras.

A já sua,

Aimeé»


Tinha o seu cheiro, era a sua letra, tudo tão belo e perfeito como a sua pessoa. Sei que estou apaixonado, e o nosso primeiro encontro foi do momento, mas também sei que ela gostou desse instante, em que as nossas vidas ficaram marcadas para sempre por mais distantes que nos encontremos.
Ela queria ver-me. Eu queria-a ela.

As horas deste dia não passavam. Recebera o recado tão cedo.

Era já fim do dia, o sol estava a pôr-se e eu corri apressado para casa.
Ceamos em família, junto com os meus irmãos e meu pai. Como era o nosso dia-a-dia, todas as três refeições feitas em conjunto, na mesa da grande sala.
Nada de especial tinha ocorrido, apenas andei a cavalo pela manhã, ao fim do jantar dediquei me a ajudar o meu pai nos negócios, visto que os irmãos mais velhos estavam sempre ausentes de França preocupados, na sua própria libertinagem e cultura europeia (a do sexo feminino).
Sempre me mantive mais por casa, visto que a minha mãe me falhara e tive de ter sido amamentado, por uma ama de leite, e ter sido criado pela minha governanta. Não sei onde ela se encontra neste momento, algures na Europa, perdida num Reino qualquer, com um homem que lhe ofereceu a aventura. As suas origens não eram humildes, mas mesmo assim decidiu se deixar levar. Eu devo ser como o meu pai, o homem das paixões eternas.
Enquanto jogava a minha pequena bola de panos, que o meu avô me tinha oferecido, ao ar e me perdia nestes pensamentos no quarto chegou a hora em que tinha que ir ao encontro da minha bela donzela.
Dirigi-me cautelosamente para o palácio. Realmente, quando me aproximei o portão estava despido de segurança, e assim entrei quase sem preocupações. Tirando uns cães que me cheiraram, mas rapidamente lhes passou o seu faro.
Dirigi-me a tal árvore. Uma sombra já se encontrava à minha espera.
Veio-me ao nariz um perfume, que me paralisou o olfacto. Permitindo-me viajar para tão longe dali, sem nunca esquecer a sua perfeita silhueta.

“Olá.” Disse-me ela.



[Demorei uns bons meses a actualizar este meu romance de época, histórico. É a minha grande aventura de escrita, por exigir tanto de mim, tanto de humano, como de inteligência. A minha parte de sentimento está a ser forçada. Mas sei sempre terminar as coisas que começo, e cumprir as promessas que faço. Pode não ser merecido, contudo está pago.]

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