Do panic...! Crónica dum falhado.

Deitei o meu corpo cansado na cama desfeita de semanas, onde o meu suor se entranhava cada vez que a minha mente inebriada fugia para perto de ti. Nunca fui do tipo de gajo que suportaria as ausências e perdas com naturalidade dum filho da puta qualquer. A t-shirt suada, e os boxers que me deste num qualquer aniversário nosso, diziam que eu era mais um na tua enorme teia. (Passaram-se três anos desde que te vi com aquele sorriso num dia cheio de sol...)
Não sabia mesmo onde me estava a meter, com um cigarro na boca e uma ferida no coração.
Tinha um puta em lingerie no outro lado da cama, a dormir com um incrível descanso que me irritava o bom senso.
'Levanta-te dai!'
'Ai! Acordaste-me!'
'É esse o objectivo... Baza da minha casa. E não me ligues amanhã!'

Fiquei a olhar o tecto negro enquanto ela pegava nas suas roupas para se ir embora. Não sei porque tinha trazido aquela rapariga para a minha cama se apenas a beijei, meti-lhe a mão, e ela a mim a boca; e deixei a dormir...

Continuei ali como que morto à espera que o sono me assolasse e uma ideia brilhante me fizesse sair do buraco onde eu estava. Rodei várias vezes nos lençóis até ver o sol da manhã.
Culpei tudo e todos pela minha barba mal feita e as minhas olheiras profundas como se isso fosse solução, a inconsciência certa de que temos razão. Percebi que não sou o príncipe encantado, nem o super-herói. Sou o irritante e descontrolado Ricardo que persiste em amar até o amanhã, mesmo que ele não chegue. E isso me cegue e me dificulte a respiração de ser eu outra vez.
Sei lá porque te sofro. Sei lá porque te procuro nas madrugadas, e nas gajas levianas, que não vêm nada para além do meu sorriso e o meu abraço firme.
Julgava eu que tu me vias...
Não queria mais esse cenário para mim e esses pensamentos que nunca encontrarão uma definição.
Vesti a primeira camisola e as calças rafadas. Olhei-me no espelho da casa de banho, acordei-me com água gelada na cara.
Fui para a rua... Disquei o teu número no telemóvel.
'Estou?!'
Silêncio.
Corri até à ponte... Esvai-me em grito.
E lancei o telemóvel ao rio.

Comentários

  1. amor de uma outra vida?

    tdt*

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  2. Numa palavra: BRUTAL!

    Adorei mesmo...

    Remeto-me agora ao silêncio, transmitindo-te o que sinto por telepatia....

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  3. Digamos que o teu cérebro é uma fonte inesgotável de ideias e críticas. Assemelhas-te ao Eça. Parabéns pelo teu texto. Deu-me a sensação de que estavas a desabafar e não a escrever uma simples estória. Deixo isso entregue à tua cabeça. Só ela saberá o que realmente te incentivou a escrever sobre este tema.

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  4. "Fui para a rua... Disquei o teu número no telemóvel.
    'Estou?!'
    Silêncio.
    Corri até à ponte... Esvai-me em grito.
    E lancei o telemóvel ao rio."

    Adorei.

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