Venero-te 2010

«O fim do Verão sempre foi das alturas mais tristes para mim. O sol desaparecia e aquele frio assolava a minha terra natal – nessa época regressava a “casa”.

Fui sempre feliz, até o dia em que realmente te conheci. Devia ter uns 19 anos quando regressei à aldeia. Deparei-me com as nossas mães a conversar. Tinha acabado de chegar a casa; de saco às costas, com o meu ar demasiado perdido e talvez até meigo. O bronze era forte, a cor dos olhos tinha clareado.

- Olá mãe! – Cumprimentei-a.

- Olá filho! Já falamos ‘tá bem?

Compenetrada na conversa pouco me ligou, eu que chegava passado tantos meses, a casa.

Pousei o saco no chão do quarto. Atirei-me para a cama de solteiro, e recordei-me que na outra casa tinha a minha cama de casal onde tantas vezes se vergava das costumeiras visitas.

Desci as escadas.Andava à procura do meu pai e do meu irmão. Nem adiantava perguntar à minha mãe, visto que não me ligava nenhuma. Encontrei-os atrás da casa de volta do carro “novo” do meu irmão.

- Hei morcões! – Eu estava a tentar ser nortenho outra vez.

- Hei cabrão! – Disse o simpático do meu irmão.

- Filho! Dá cá um abraço ao teu pai!

Mostraram-me o carro do meu irmão. Era um desportivo, e mais um mimo para o meu irmão por se estar a formar. Ele era o mais velho; tínhamos uma diferença de 4 anos. Pouco se notava a nossa diferença. Mas por ser o mais velho e “atinadinho” corria-lhe bem a vida com os nossos pais. Nem saíra da cidade natal. Já eu, eu saí, e fui para o mais sul possível. Quase que me atirava ao mar para o atravessar a nado em direcção a África.

Sempre fui o revolucionário da família e activista. Ninguém me apoiava, a minha mãe tentava me dar atenção, o meu pai até me compreendia; saí a ele.

- Que se passa com a mãe que para não variar não me liga nenhuma? Ela nunca se deu com aquela senhora…

- Pois filho, mas agora dá-se com aquela senhora. Ela é a nova sogra do teu irmão. Hehe.

- Ah?! Hahaha. A sério mano?

- Qual é o teu problema anormal? - Reclamou o meu irmão.

- Finalmente desencalhaste. Estás a namorar com o melhor partido aqui da aldeia. Os meus parabéns, anormal.

- Tu estás, é com inveja que não arranjas nenhuma de jeito e que dure mais que uma semana de fodas.

- Meninos, então! Filipe olha a linguagem!

- Vês papá? Ele também diz asneiras! – Disse eu em tom de gozo.

- Desculpa pai. Mas o Ricardo mais uma vez está ma provocar; já sabes como ele é… - Remediou-se o Filipe.

- Sei como são os dois… Vocês…! – Suspirando.

Eu não acrescentei mais nada ao assunto, dei meia volta dizendo que voltava depois. Fui dar a minha ronda. Peguei na bicicleta, como na minha infância, e fui chamar o Gonçalo para irmos ver as “vistas”.

Pedalamos até à praceta central da aldeia, onde tinha os habituais velhos, e as “frescas” imigrantes com as primas portuguesas.

Algumas cresceram e ficaram feias, a maioria tinha melhorado como nunca tinha visto. Se calhar não ia apanhar a seca que imaginava.

- Então oh Gonçalo, o meu irmão resolveu desencalhar e logo com a “partidaça” da Joana? Não é que ela seja algo de muito especial, mas é da melhor família…

- Não sei como o teu irmão conseguiu, mas a miúda realmente é um óptimo partido. Tens de a ver, está crescidinha a gaja!

- Anda lá, ela sempre foi mirradita…! Ahaha.

- Tu é que sabes. Depois não digas que não te avisei. Anda tudo a reparar nela.

- Ok, ok! Tenho de ver isso.

Ficamos ali os dois calados, e às vezes a tecer comentários ao ambiente que nos rodeava e de como seria este verão de volta à aldeia.»


[Deve ser de certeza mais uma tentativa falhada... um novo começo. Não tenho inspiração nem para o uso da privada. Ando mesmo a fazer tudo a público!]



Comentários

  1. Deixas-me com vontade de ler o resto da história... De resto, gosto da forma como consegues retratar por escrito a linguagem verbal dos personagens, de forma característica, mas natural. ;) E também gosto de ti, tá? Beijinho!

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