Crónica: Não mudo II

Sonhei contigo mais uma noite. Será que é verdade? É que eu acordo sempre que estou feliz contigo. Desde a última vez que te vi que te acho feia. Mas depois disso, todo o tempo que fico sem te ver volto a personificar na minha mente a deusa mais bela que cruzou a minha vida. É óbvio, que tenho um conflito psicológico a acontecer. Isso tudo deve-se à minha insatisfação amorosa contigo.

Cruzamos olhares. Nunca me sorris. E eu fico pasmado à tua frente. Devo ter a esperança de estar a sonhar outra vez e naquele momento acordar. Mas agora foi diferente, porque caminhei lentamente para ti. E tu nem te mexeste. Será que também estavas à minha espera? Ali não eram sonhos.

Ficámos imóveis, a observar cada micro expressão de medo nas nossas caras.

- Estou farto de olhar para ti, e sonhar contigo quase todas as noites.

- O que é que tenho a ver com isso?

- Tudo, a culpa é tua. Cada vez que te vejo quero-te para mim.

- Estás bem?

- Acho que sim. Eu estou a sonhar não é?

- Não...

- Ainda bem que não, assim posso continuar.

- Continua...

- Sem mim és feia.

- Estás parvo, Ricardo? Acho que estás drogado!

- Antes estivesse, doía-me menos ver-te ir ao longe e não te ter nos meus braços.

Abracei-a. Ela deixou, parece que naquele momento, sem ela nunca o ter esperado, tudo restabeleceu, e aquilo era o que ela mais queria em meses.

- De todas as vezes que sonho contigo és feliz e bonita. Eu não tenho poderes para te pôr perfeita. Mas tenho sentimentos, que são novos todos os dias, para fazer-te viver coisas que já viveste e sabes que são boas. Não precisas de mudar, eu não suporto a tua mudança. Não consigo ver que és tudo menos aquilo que eu tive e conheci. Estás mais longe do que eras, e a culpa é minha. Por isso eu tenho que te trazer a mim, para te fazer relembrar o quão bom é seres tu. Não posso dizer que te amo, mas posso dizer que te quero experimentar. Não te posso negar futuros erros, mas posso garantir que descobrir-te mais uma vez será das coisas mais belas da minha vida. Tu és de longe perfeita. Mas não consigo deixar escapar o teu pecado das minhas mãos. Porque eu quero que sejamos imperfeitos juntos. - disse-lhe ao ouvido.

Apertou-me com mais força, que quase tínhamos o nosso respirar sincronizado. E em seguida vi-a ir embora de costas voltadas para mim. Sem mais nenhum olhar. Não sei que espécie de trip foi aquela, mas o perfume ficou em mim. Só sei que era amor.