Não, não faz sentido. Nada mais faz sentido. Se te vês no mesmo beco sem fundo e a sentir a mesma corrente de ar na nuca.
Foste ali despejar mais um saco preto com um corpo sem emoção, lá dentro, rio abaixo. Sempre que chegas à linha de fundo, em vez de morreres, matas mais uma alma que outrora se deitava contigo diariamente, até ao dia que ela não reconhecia sequer os teus olhos. E tu não sabias que voz era aquela que te atormentava todos os dias ao acordar. Podias ficar mais baixo, e sem escrúpulos, e massacrá-la até à morte. Mas não, o sangue frio estava a ferver na tua pele, e a precisão do corte foi limpa. Ela cai estendida no chão de madeira, e nem o impacto se ouve. Aquela alma, já não era mais, dentro daquela casa. E tu tinhas acabado de a matar. Era o que fazias, para depois viveres com o remorso até te esqueceres com uma nova vítima. Que amarias outra vez, e darias as tuas mais profundas energias, carregarias o seu corpo como fosse o teu. Darias-lhe fôlego para respirarem o mesmo ar, mas de nada isso ia valer. Se as tuas mãos não cheirassem a sangue, e não estivessem as unhas tão sujas de escavar terra de algumas sepulturas.

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