Como te chamas?

Andei mais duas estações para te ver, mais duas estações para ganhar a coragem de te dizer que foste a que mais me chamou à atenção em dois meses que aqui ando.
Essas duas estações foram as que me permiti te olhar sem medo, foram as que me fizeram levantar, chegar a ti, atravessar todos os corpos cansados que mesmo em pé tinham a alma deitada. E tu, encostada quase à porta, sorrias sempre que te fixava e mexias os cabelos com esperança que eu os fosse cheirar. Essas duas estações fizeram me sussurar ao teu ouvido "podes te sentar no meu lugar, daqui vejo-te melhor".
Não sei quem eras nem quem vais ser na seguinte saída. E sou cobarde, porque não te perguntei se me estavas a ler as ideias daqui.
Não quis saber, só me apetecia que saísses porta fora, e andasses para eu ver o teu balançar, e o teu olhar esgueiro por cima do ombro, enquanto te pisco o olho e te persigo com uma música de fundo nada usual.
As curvas eram tuas, as mãos eram minhas. Foi o que se viu quando correste, e eu te agarrei e soltaste a melhor gargalhada que ouvi no último ano. Rodei-te em mim, eras leve, e nem eras minha. Encostei-te às grades da ponte, e nem sabia se tinhas pressa. Para sorrir tinhas de certeza. Fixaste-me, fixei-te, os teus olhos eram mais escuros que os meus, e mesmo assim espelhavam que nada te importava, apenas o desconhecido.
Depois dos corpos encostados, as pélvis ritmadas, não quiseste saber, e os nosso lábios carnudos colaram-se em pequenos intervalos. Não era fome, não era desconhecido, era sabor. Se não tínhamos mais nada a não ser sorrisos e olhares. Mas tínhamos muita coisa.
Nunca quiseste fugir, mas quiseste levar o meu cheiro. Arrancaste-me a pele a cheirar-me o pescoço, e perdi a voz, nem nunca a abri.
Largaste-me, e roçamos os dedos a primeira da última vez. Os sorrisos acabaram.
Ao nos afastarmos, não olhámos para trás, nem quisemos saber, continuavamos a não ter pressa. Nem razão, ou então todas as certezas.
Não sabemos quem somos um ao outro, fomos alguma coisa, por uma vida, por vários segundos. Nada nos magoou, nada foi de mais.





E essas duas estações passaram, e eu levantei-me, passei à tua frente, acho que senti o teu perfume. E a nossa história ficou naquele meu banco.

"Como te chamas?"






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